segunda-feira, 4 de março de 2024

Ordem Franciscana Secular - Fraternidade das Chagas

 


Ordem Franciscana Secular 
Fraternidade das Chagas: irmãs e irmãos leigos, consagrados para seguir a Cristo, na trilha de São francisco de Assis, vivendo o Evangelho; testemunhando a fé; reconstruindo a igreja e a sociedade; lutando pela justiça, paz e cuidado com a casa comum; amando e promovendo a vida aos necessitados. 


 

domingo, 3 de março de 2024

Mensagem da Ministra - Mês de Março

 



São Paulo, em 25 de fevereiro de 2024.

 

Queridos Irmãos, Irmãs e Frei Mário

PAZ E BEM!

        Festejamos nesta semana que finda a festa da Cátedra de São Pedro e louvamos ao Senhor por nosso Papa Francisco, que podemos considerar o profeta de nosso tempo. Perseguido por muitos, procura nos transmitir o Evangelho de modo sábio com a largueza do amor do Coração de Jesus. Em 13 de março será celebrado seu aniversário de eleição e em 19 de março o de seu pontificado, pois foi eleito em 19.03.2013.

        O mês de março neste ano bissexto vem coroado de grandes celebrações. Apresento-lhes nossa agenda:

Dia 03 –Primeiro Domingo - Dia de Espiritualidade que se inicia com a

SantaMissa em preparação a celebração da Páscoa em 31.03, com Adoração

Eucarística.

Tema: Incêndio do Amor – Os caminhos de nossa VidaEspiritual de São

Boaventura. No final haverá um momento orante.

Queremos servir um café reforçado, prevendo o final para as 13 horas, sendo

que não haverá o almoço. Quem puder trazer algo, nos avise para nos

organizarmos.

 

Dia 16 – Reunião do Conselho; à tarde – Atualização do Estatuto.

 

Dia 17– Terceiro Domingo - Reunião Fraterna – Tema CF/2024 –

Fraternidade e Amizade Social – “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).

Após o almoço, formação inicial.

 

Dia 19 – Festa de São José – Celebremos em nossas Paróquias esta festa

e em todo o mês, demonstremos nossa afeição e devoção ao querido Patrono

da Santa Igreja.

 

Dia 27 - Quarta-feirada Semana Santa – Via Sacra presencial às 15

horas, seguindo-se a Missa em nossa Igreja. Peço aos Irmãos e Irmãs que

se programem paraesta oportunidade, pois será a única que poderemos

rezar juntos em fraternidade na quaresma deste ano.

 

        Não deixem de participar do Tríduo Pascal, na quinta feira, sexta e

Sábado na Vigília Pascal, para que possamos celebrar dignamente no

Domingo da Páscoa, a Ressurreição do Senhor.

 

 Temos um grupo de peso também dentre os aniversariantes do mês,

vejam:

 

03 – Edmilson Soares dos Anjos

11 – Francisca Kelly Fernandes

12 – Inácia Carvalho Leite (funcionária)

13 – Iolanda Lamarche de Oliveira (nossa benfeitora)

14 – Bernardo Cesar

21 – Alex Sandro Bastos Ferreira e Carlos Milton

25 – Frei FidêncioVanboemmel, Ofm

30 – Gabriela Silva e Wilma Saraiva Satto

 

        A todos as nossas orações com votos de profunda união com Deus e

com a Fraternidade!

 



 

Desejo a cada membro da Fraternidade e suas famílias uma FELIZ E

SANTA PÁSCOA!

         Que o Espírito Santo renove todos os corações para que possamos viver

em plenitude os frutos da Ressurreição do Senhor em nossas vidas.

         Celebremos com júbilo o ápice de nossa fé, com muita esperança e amor!

 

Maria Aparecida Crepaldi

Vossa Ministra

 

sábado, 2 de março de 2024

”Vós sois todos irmãos e irmãs”

 



                                            


  ”Vós sois todos irmãos e irmãs”



Estamos vivenciando, desde a quarta-feira de cinzas o tempo da Quaresma e no Brasil, a Campanha da Fraternidade sobre amizade social, cujo lema é “Vós sois todos irmãos”.  Seu objetivo é despertar para a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todos. 

 

Entre os objetivos, está a missão de compreender como a mentalidade de divisão está afetando o conjunto da vida, inclusive a dimensão religiosa, e identificar as principais causas da atual mentalidade de oposição e conflito, que gera a incapacidade de ver nas outras pessoas um irmão e irmã. Pretende-se, também, sensibilizar sobre a necessidade de superar as divisões e polarizações, construindo a unidade em meio à pluralidade. 


São-nos apontados no texto-base da campanha, entre outros,  os sinais de predisposição à fraternidade e amizade social, afirmando que a fraternidade inscrita em nossa natureza humana a partir da comum filiação divina impele-nos constantemente, apesar das nossas misérias humanas causadas pelo pecado original, a viver a amizade social querida por Deus. 

 

Neste tempo penitencial, “tempo favorável de conversão”, com esta Campanha da Fraternidade 2024, nos alerta sobre os riscos de nosso tempo, como o uso e a exploração do outro, a indiferença generalizada, os julgamentos precipitados, a rejeição gratuita, o ódio desmedido, o combate a pessoas e não a idéias ou propostas, as mortes sem sentidos, entre outros males nos levam a crer que o mal de que padece a nossa sociedade é o medo, a rejeição, aversão a tudo aquilo que é outro, que não sou eu mesmo. Vivemos fisicamente próximos, mas absolutamente distantes. 


Somos impulsionados a refletirmos a partir da nossa fé e adesão a Jesus Cristo, se tornamo-nos incapazes de nos colocar no lugar do outro, incapazes do que Jesus chama no Evangelho de compaixão, de padecer o sofrimento alheio.

 

Irmãos e irmãs, que como gesto concreto de conversão pessoal, ao celebrarmos a Páscoa do Senhor, celebremos também a nossa. E, em tempos atuais, ressuscitar com Cristo é vivermos concretamente a Fraternidade, a Amizade, da Solidariedade, comprometidos com o agir de Deus criador que pede que cuidemos da criação em vista do bem comum e do equilíbrio de toda a obra criada. Que exerçamos a corresponsabilidade, pelo bem de todos os irmãs e irmãs. Que sejamos uma Igreja que parte do humano como um lugar existencial, como parte integrante de Deus para o bem comum.  Assim seja.


Irmão George Luiz Cardoso (Mestre de Formação)

sexta-feira, 1 de março de 2024

Bem-aventurada Ângela Foligno

 





Bem-aventurada Ângela Foligno

            Ângela nasceu em Foligno a três léguas de Assis. Casando-se muito jovem, apaixonou-se de tal sorte pelo mundo e por suas loucuras que, esquecendo os sagrados deveres de esposa e mãe, caiu os desvarios de uma vida criminosa.

            Impelida certa ocasião pelo remorso, dirigiu-se ao tribunal da penitência, mas, obedecendo a um errôneo pudor, deixou de relatar as suas mais graves faltas, animando-se a aumentar esse sacrilégio com uma comunhão sacrílega. Daí em diante, nunca mais teve sossego, agitada dia e noite por cruéis remorsos, só depois de uma confissão perfeita, aquela alma torturada pode antever as delícias da paz.

            A partir desse momento, Ângela dedicou-se à viva e profunda compunção, que deveria conduzi-la, pouco a pouco, aos cimos da perfeição, estabelecendo entre Jesus e ela essa intimidade inefável que lhe permitiu sondar o abismo dos mais profundos mistérios de nossa fé.

            Datam dos primeiros tempos de sua conversão as mais rudes provas que lhe despedaçaram a alma, tais como o falecimento de sua mãe, de seu esposo e dos queridos filhos. Contudo, em meio dessas terríveis provações, Ângela adorava a vontade divina. Rotos os laços que a prendiam à terra, ela se devotou a Deus procurando satisfazer à sua justiça por uma completa e voluntária pobreza, pela oração e por lágrimas de arrependimento.

            Fez-se terceira franciscana e foi com hábito da Ordem da Penitência que atravessou o período de vida purgativa, sendo submetida pelo demônio às mais assustadoras experiências destinadas a quebrar-lhe a paciência e a coragem. Presa de inexprimíveis dores físicas e torturas da alma, exclamava, porém, com inabalável firmeza, a arrependida filha de São Francisco: “Glória a vós, Senhor! Vossa cruz é o meu leito de repouso, tenho por travesseiro a pobreza e descanso os membros na dor e no desprezo”.

            Dois anos durou essa noite de cruel martírio, sucedida pelo dia radioso das consolações. Conhecimentos admiráveis do mistério da Santíssima Trindade, dos atributos e perfeições de Deus lhe foram concedidos e tão maravilhosa era sua inteligência das sagradas escrituras que os homens mais doutos recorriam às suas luzes.

            A esses favores divinos, Ângela respondia com a mais profunda humildade, reputando-se a mais indigna das criaturas e tendo sede de desprezo e opróbrios.

            O brilho de sua santidade e o poder de seus exemplos reuniram em torno dela um certo número de cristãos e cristãs que, usando também o hábito da Ordem Terceira, trabalhavam sob sua direção para ascender nos caminhos de Deus. A seus filhos espirituais, ela dava instruções admiráveis, verdadeiras joias espirituais: “Conhecer-nos a nós mesmos e conhecer a Deus, eis a perfeição do homem. E, quando a alma mergulha no abismo de sua indignidade, de seu nada, de seu pecado, quando a alma vê o Deus Altíssimo tornado amigo, o irmão, a vítima do pecador quando mergulha enfim profundamente o olhar nesse duplo abismo, mais intimamente se realiza nela o mistério do amor, a transformação dela própria em Deus”.

            Belíssimas são as suas palavras acerca da oração que “liberta e une a Deus” e formosíssimos os conselhos que à hora da morte dirigiu a seus filhos espirituais: “Recebi de Deus, asseguro-vos, maiores favores quando chorei e sofri pelas faltas do próximo do que quando chorei e sofri pelas minhas. Oh! meus filhos, amai e não julgueis nunca. Se virdes um homem pecar mortalmente, tende horror ao pecado, mas não julgueis o homem, não desprezeis a pessoa, porque ignorais os juízos de Deus. Muitos parecem condenados e são salvos por Deus... Muitos parecem salvos e são condenados por Deus...”

            Ângela terminou seus dias orientando espiritualmente, através de cartas, centenas de pessoas que pediam seus conselhos. Ao Santo Arnaldo, a quem ditou sua autobiografia, disse o seguinte: “Eu, Ângela de Foligno, tive que atravessar muitas etapas no caminho da penitência e conversão. A primeira foi me convencer de como o pecado é grave e danoso. A segunda foi sentir arrependimento e vergonha por ter ofendido a bondade de Deus. A terceira me confessar de todos os meus pecados. A quarta me convencer da grande misericórdia que Deus tem para com os pecadores que desejam ser perdoados. A quinta adquirir um grande amor e reconhecimento por tudo o que Cristo sofreu por todos nós. A sexta sentir um profundo amor por Jesus Eucarístico. A sétima aprender a orar, especialmente rezar com amor e atenção o Pai Nosso. A oitava procurar e tratar de viver em contínua e afetuosa comunhão com Deus”.

Seu túmulo foi cenário de muitos prodígios e graças. Assim, a atribuição de sua santidade aconteceu naturalmente, àquela que os devotos consideram como a padroeira das viúvas e protetora da morte prematura das crianças. Foi o Papa Clemente XI que reconheceu seu culto, em 1707. Porém ela já tinha sido descrita como Santa por vários outros pontífices, à exemplo de Paulo III em 1547 e Inocente XII em 1693. Mais recentemente o Papa Pio XI a mencionou também como Santa em uma carta datada de 1927.


Texto adaptado e atualizado da revista Echo Seraphico, Ano VI, Março de 1917, nº3.



Bem-aventurada Ângela Salawa, virgem, da Ordem III - 12 de Março

 

            

12 de março

Bem-aventurada Ângela Salawa, virgem, da Ordem III


Terceira franciscana (1881-1922).
Beatificada no dia 13 de agosto de 1991 por São João Paulo II, em Cracóvia.


Ângela Salawa Nasceu a nove de setembro de 1881 na cidade de Siepraw, perto de Cracóvia, na Polônia, para onde se transferiu em 1897, afim de trabalhar no humilde serviço de empregada doméstica. Sentiu-se chamada, por Deus à santidade no estado secular entre dificuldades da vida, a fim de participar da Paixão de Cristo pela salvação das almas. Inscrita na Ordem Terceira Franciscana, atualmente Ordem Franciscana Secular, brilhou por uma piedade fervorosa para com Deus, pela paciência e a pobreza, cultivando a virgindade perpétua. Foi agraciada por Deus com dons místicos que foram transcritos num Diário espiritual. Por ela mesma escrito em nome da obediência. Morreu em Cracóvia a 12 de março de 1922 e na mesma cidade foi beatificada pelo Papa São João Paulo II, em 13 de agosto de 1991.

 

Ofício das Leituras

Do Diário espiritual da Bem-aventurada Ângela Salawa

(n. 3-9: Archivio Generale OFMConv.)

Dirigindo a minha mente para o tempo passado da minha vida, me parece achar-me no estado a que Deus me chamou desde pequena. Por isso desprezei os caminhos deste mundo e experimento aprender a cultivar as virtudes da paciência e da pobreza. Desde os meus tenros anos, eu sentia muito no coração que não poderia ser conduzida pela graça divina anão ser na mais humilde condição de vida.

Eis porque assumiu os trabalhos de empregada doméstica, deixando toda a fortuna humana que me seria possível e fortalecida nesta humilde condição de vida para que possa conformar-me ao beneplácito divino. Daí se segue que eu quero abraçar, com todas as minhas forças, qualquer dificuldade ou necessidade da vida que me chegar; e a tudo isso, como graça que me foi concedida, quero ater-me fielmente em todas as circunstâncias da vida, por mais incómodas ou amargas que sejam. Maiores que estas ainda, eu sentia que Deus esperava de sua humilde serva.

Meditando naquelas palavras do Cristo Senhor: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo15,17), penso que posso deduzir daí que Deus me escolheu para percorrer esta condição de uma vida mais humilde; não me é lícito procurar para mim um caminho, ainda que mais plano, para que aquelas palavras de Cristo obtenham efeitopleno nesta condição de vida, isto é: Bem-aventurados os olhos que veem o que estais vendo, bem- aventurados os ouvidos que ouvem o que estais ouvindo. (Lc 10,23; Mt 13,16).

No caminho que Deus se designou mostrar-me, estas são as normas que eu quero seguir no decorrer da minha vida:

 Primeira: entre as dificuldades ou chateações de qualquer tipo que me venham por causa das pessoas, quero, com todas as forças, praticar a fortaleza e a firmeza de ânimo, a equidade, o silêncio oportuno e ter paciência com os outros, como também a justiça. Se eu conseguir viver bem esta vida, descansarei no Senhor com alma confiante e não me deixarei perturbar por nenhuma inquietação. Lembrar que estas e outras coisas possam acontecer na vida de uma alma cristã há de me ajudar.

Segunda: devo estar firmemente persuadida a alimentar esta vida, bem como o fim da minha vida; e tendo isso claro na mente, aceitarei de bom grado tudo o que me acontecer na vida, com ânimo forte para o meu proveito espiritual. Que eu possa na hora da morte confiantemente exclamar: Tudo está consumado!(Jo 19,30).

 

Oração

Dai-nos, óPai, o espírito de humildade e de amor, em virtude do qual a Bem-aventurada Ângela, virgem, se ofereceu a si mesma como sacrifício vivo, santo e agradável a vós.Concedei também a nós, por sua intercessão, progredir na novidade da vida evangélica para conformar-nos a Cristo,vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém!

 

Fonte:

Liturgia das Horas –Próprio da Família Franciscana do Brasil – Editora Vozes

Preparando o Tríduo Pascal - 2024

 Preparando o Tríduo Pascal

                                                                                               

                                                                                                          Irmã Penha Carpanedo 


                        A reforma do Ano Litúrgico e do Calendário foi um empreendimento de inestimável valor, fruto do movimento litúrgico e da renovação litúrgica a partir do Concílio Vaticano II. O grande desejo foi o de resgatar a unidade do Ano Litúrgico, tendo como eixo estruturante o mistério pascal, para “alimentar devidamente a piedade dos fiéis” (SC 107). Tal novidade foi acolhida com entusiasmo e fervor no início da reforma litúrgica. Aos poucos o povo foi assimilando a teologia e a pedagogia do Ano Litúrgico. No que se refere ao Tríduo Pascal, houve uma progressiva apropriação do seu sentido teológico e das suas expressões rituais e somaram-se esforços em toda a parte para celebrar o Tríduo como memória anual da páscoa num todo unitário, como era nos primeiros séculos da Igreja. A Vigília Pascal, em muitas comunidades, recuperou o seu caráter noturno e voltou ao seu lugar de “mãe de todas as vigílias da Igreja”, ápice das celebrações pascais e de todo o ano litúrgico. Contudo, no momento atual, estamos assistindo a um esvaziamento, antes mesmo que pudéssemos chegar a uma maturação neste processo de reapropriação. Ou se cumprem as normas de uma maneira absolutamente formal, ou simplesmente se ignora a riqueza proposta pela reforma em seus princípios e orientações. E o vazio acaba sendo preenchido por iniciativas particulares e devoções, ou por expressões da piedade popular, nem sempre com o devido cuidado de fazer coexistir liturgia e práticas de piedade “no respeito à hierarquia dos valores e da natureza específica de ambas”. Como evitar um tal esvaziamento e tantas deformações? O que fazer para que as festas pascais sejam ponto alto na vida da comunidade, expressões de vida de uma Igreja que busca na liturgia sua primeira fonte de espiritualidade (cf. SC 14)? Não pretendemos aqui aprofundar exaustivamente todo o significado do Tríduo Pascal, nem temos a pretensão de oferecer solução fácil para um problema que mais parece ser estrutural. Queremos sim evidenciar algum elemento que nos ajude a não desviar a atenção da centralidade do mistério e a considerar a unidade e a superioridade das festas pascais em relação a todas as outras expressões da nossa fé.


Lembrando a história 


                    Até o século II a festa dos cristãos era o domingo, vivido e celebrado como dia de alegria, páscoa semanal. A partir do final do século II firma-se a prática de uma festa anual da páscoa, no domingo posterior ao 14 de Nisã (data da páscoa judaica). Até o final do século III foi a única festa anual da Igreja. Tratava-se da Vigília Pascal que durava toda a noite, culminando ao amanhecer com a eucaristia que marcava a entrada no Pentecostes, entendido como cinqüenta dias de festa e de alegria. A Vigília era precedida pelo jejum que se iniciava na sexta-feira e se prolongava por todo o sábado, até a celebração da eucaristia no sábado à noite. Os elementos essenciais eram a liturgia da Palavra e sua atualização sacramental na eucaristia, aos quais, mais tarde, acrescentou-se o batismo, com a bênção da água. Em torno da vigília foi se firmando, em uma unidade, a memória da crucifixão na sexta-feira, da sepultura no sábado e da ressurreição no domingo. Aos poucos prevalece a tendência de historicizar as narrativas evangélicas em torno dos acontecimentos da despedida, morte, sepultura e ressurreição. Inicialmente, celebrados numa perspectiva unitária, representou uma riqueza; mas esta unidade acabou em desagregação, desviando a atenção do essencial. O relevo excessivo dado à instituição da eucaristia, na quinta-feira santa, desviou a atenção do verdadeiro ápice da páscoa, constituído pela eucaristia na Vigília, e rompeu com a própria unidade do Tríduo, não mais constituído de sexta, sábado e domingo, mas de quinta, sexta e sábado. A sexta-feira era dia de jejum e limitava-se à liturgia da palavra. Mais tarde incorporou o rito da adoração da cruz. Passou a enfatizar o sofrimento de Cristo sem a necessária ligação com a noite da páscoa. A Vigília Pascal que começava ao pôr-do-sol do sábado, por vários motivos, foi progressivamente antecipada para a tarde do sábado, chegando a ser fixada ao meio-dia. Com o papa Pio XII, em 1955, sob o impulso do movimento litúrgico, o Tríduo Pascal começou a reconquistar a sua unidade e o seu sentido. Entre outras coisas, foi estabelecido que a missa da quinta-feira fosse celebrada à noite, não antes das 17 horas e não além das 20 horas. A liturgia da sexta-feira santa foi transportada para a tarde, de preferência às 15 horas ou depois, mas não além das 18 horas. A solene Vigília devia ser celebrada de preferência depois da meia-noite. O Concílio Vaticano II deu término a essa reforma resgatando a teologia e a prática do Tríduo Pascal, em consonância com a tradição que vem das comunidades cristãs dos primeiros séculos.



Em busca da unidade 


                    O Tríduo Pascal tem seu início com a memória da última Ceia do Senhor na quinta-feira à noite. 2 É celebração da páscoa do Senhor no decorrer de três dias: a sexta-feira da paixão, o sábado da sepultura e o domingo da ressurreição, com o seu centro na Vigília Pascal. Enquanto a memória da Ceia apresenta o mistério pascal em sua dimensão ritual, sexta, sábado e domingo o apresenta na sua dimensão histórica. Cada dia abre-se para o outro da mesma forma que a ressurreição supõe a morte, e a morte, por sua vez, possui a promessa da ressurreição. 

                     Na quinta-feira santa, a missa vespertina faz memória da última Ceia que o Senhor realizou com os seus, antes da sua morte. Essa Ceia sintetiza toda a vida e missão de Jesus que culmina em sua morte, assumida por amor ao Pai e aos irmãos. Trata-se da Ceia pascal judaica que Jesus celebrou e na qual ele próprio se entregou qual cordeiro do sacrifício para a redenção do mundo. 

                    A verdadeira eucaristia da páscoa é a da Vigília Pascal, no sábado à noite. Contudo, na missa em memória da Ceia do Senhor, na abertura do Tríduo, deve ser sublinhado que recordamos nela o que Jesus fez e mandou fazer: tomou o pão e o cálice, deu graças, partiu e repartiu... tomai e comei, tomai e bebei, este é o meu corpo; este é o meu sangue. Fazei isto em memória de mim. Repetindo os gestos que Jesus fez, na noite em que ele foi entregue, somos impulsionados pelo Espírito a devotar a nossa vida a uma causa, ao reino, como ele fez em seu amor até o fim. 

                   A Igreja dispôs a liturgia eucarística em quatro momentos de modo a corresponder às palavras e gestos de Cristo (preparação da mesa, ação de graças, fração do pão e comunhão). A celebração eucarística, de acordo com a tradição que vem de Jesus e das primeiras comunidades (cf. 1Cor 23-26), tem estrutura fundamental de Ceia. Se isso vale para toda eucaristia que celebramos, mais ainda para a celebração da quinta-feira santa, na qual é dada importância especial à comunidade, realizando o que Jesus fez e mandou fazer. Destaca-se a presença da comunidade reunida em sacramento de unidade. Recomenda-se que pelo menos nesta celebração se use pão (ázimo) em vez de hóstia, que a comunhão seja dada sob as duas espécies e com o pão consagrado nesta missa e não em uma anterior. Também por isso pede-se que o sacrário esteja vazio no início da celebração. 

                Nessa noite, consagrada à lembrança da eucaristia, a reserva eucarística será colocada numa capela à parte, em quantidade suficiente para a comunhão no dia seguinte, também para a comunhão aos doentes e para a adoração que se prolonga depois da celebração. Com essa prática, chama-se a atenção para o aspecto da presença permanente do Senhor nas espécies eucarísticas. Durante a adoração sugere-se a leitura orante do evangelho de João (capítulos 13-17), indicando o momento de adoração como tempo de mistagogia do mistério celebrado. 

                    Para a reposição do pão consagrado recomenda-se sobriedade; nunca a exposição em ostensório, nem o sacrário ou o cibório abertos, “para respeitar o significado das celebrações destes dias”. Também se deve evitar qualquer associação entre a capela da reposição com o sepulcro. A adoração seja feita por algum tempo durante a noite e, após a meia-noite, sem solenidade, quando então entra-se na grande meditação da paixão do Senhor e da sua momentânea ausência. 

                    Na sexta-feira, o relato da paixão segundo João apresenta Jesus realizando a obra da salvação não como vítima impotente e resignada, mas como alguém que conhece o sentido dos acontecimentos e os aceita livremente. Com essa visão joanina, a liturgia da sexta-feira santa não quer chamar atenção sobre o sofrimento em si, mas sobre a glória de Cristo, e sobre a sua vitória pascal. Na liturgia da sexta-feira santa a ênfase é dada à realidade da morte, mas não como fim em si mesma, e sim como promessa de vida e ressurreição que se tornará plenamente presente na Eucaristia da Vigília Pascal.

                    O elemento fundamental da liturgia da sexta-feira é a Proclamação da Palavra. O rito da apresentação e adoração da cruz nasce como ato conseqüente. A cruz é colocada no centro da Assembléia cristã como sinal pascal de vitória e do amor que vence o mal e a morte. Assim ela é aclamada e adorada. A Igreja ergue o sinal de vitória como que para tornar visível a própria palavra de Jesus: “Quando eu for levantado atrairei todos a mim” (Jo 12,32). 

                    O cenário da sexta-feira é o altar desnudado e as imagens cobertas, indicando o luto da Igreja. É tempo de jejum e meditação silenciosa. Sugere-se com insistência a Liturgia das Horas. O Ofício das Comunidades oferece ofícios para as diferentes horas do dia. Outra possibilidade é a Via Sacra, expressão consagrada da piedade do povo. Em muitos lugares há expressões como a memória das dores de Maria, a procissão do Senhor morto e tantas outras manifestações. É importante respeitar tais costumes locais, sempre, porém, de modo que apareça a primazia da ação litúrgica. 

                    Dando preferência ao horário das 15 horas, que lembra a hora em que Jesus morreu, a celebração começa com prostração e silêncio, seguida de breve oração, diante do altar despojado de toalhas, de velas e de cruz. Procede-se imediatamente à Liturgia da Palavra. Toda ênfase deve ser dada a essas leituras tão apropriadas. Em muitas comunidades é comum o grupo jovem encenar a paixão do Senhor depois da celebração litúrgica. Há, em alguns lugares, iniciativas no sentido de conversar com estes jovens para que possam integrar tais encenações na própria celebração. Nesse caso, a encenação do evangelho torna-se expressão de piedade, presença mistérica do evento litúrgico da paixão (anamnese) e não apenas representação dramática.

                     Para o rito da adoração da cruz, no caso de assembléias muito numerosas, é previsto um único gesto de reverência à Cruz, realizado ao mesmo tempo por todos. O que se deve evitar é a multiplicação de cruzes em função de agilizar a procissão, pois a verdade do sinal requer que a cruz seja única. Também não é uma solução muito pastoral transferir o gesto de beijar a cruz para depois da celebração. Se os cantos que acompanham o gesto pessoal são adequadamente escolhidos, este pode ser um momento de fecunda meditação. 

                    O rito da comunhão prevê o canto do Pai nosso; e durante a distribuição, o canto do salmo 22(21). Ao final, o altar volta a seu despojamento e a cruz é colocada no centro como referência para a oração pessoal. 

                    O sábado Santo é especialmente consagrado à memória da sepultura de Jesus, compreendida como sua máxima solidariedade com a nossa condição mortal. A sepultura é certificação da morte de Jesus. Marcos fala de cadáver (15,45). Três são as testemunhas da morte: José de Arimatéia, o centurião e Pilatos (Mc 15,42-47). José de Arimatéia providencia o enterro para que Jesus não seja jogado na vala comum, destino certo dos executados. A sepultura pertence à forma mais antiga do kerigma: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras” (1Cor 15,3-4).

                    Neste dia, a comunidade faz sua a atitude das mulheres em frente ao sepulcro (cf. Mt 27,61), numa atitude de espera, confiante na fidelidade da palavra de Jesus. No cenário deste dia, caberia o livro da Palavra, ou ícone de Maria, a mulher-símbolo do Israel fiel, primeira discípula a escutar, ela que esteve presente na Hora de Jesus em Caná e na Hora extrema da cruz. O sepulcro lacrado parece pôr fim a todas as expectativas; no entanto, a Palavra contém uma promessa e é a Palavra ‘guardada no coração' que impulsiona a Igreja-esposa a esperar do fim um novo começo... Há momentos em que se depara com o absurdo. No sábado santo, somos firmados na fé de que é possível transformar o absurdo, o inaceitável, em caminho de salvação... Neste dia não há celebração dos sacramentos e a comunhão só pode ser dada como viático. Mas há nas orientações uma insistência sobre a celebração do ofício divino durante o dia de sábado. Os salmos, leituras bíblicas e orações constituem uma riqueza que nos ajudarão a entrar no mistério deste dia, a fazer dele um retiro juntamente com os catecúmenos, à espera do grande anúncio da ressurreição. 

                     No coração da noite, com lâmpadas acesas nas mãos, como aquelas jovens do evangelho que esperam pela chegada do esposo, entramos na Vigília Pascal. Uma noite de vigília em ‘honra do Senhor' para recordar e reviver o evento da morte-ressurreição de Cristo, em clima de amorosa espera. Vivendo desde já a páscoa que celebramos, nós o fazemos com a firme esperança de que esta se realize sempre mais profundamente em nós e no mundo.

                     Toda a celebração da Vigília Pascal deve se desenvolver durante a noite. A imagem da noite iluminada exprime, no plano simbólico, melhor que qualquer conceito, o mistério mais profundo da páscoa: a passagem da escravidão para a liberdade; a passagem de Cristo da morte para a vida; a passagem da comunidade das obras das trevas para viver como filhos e filhas da luz. 

                    Os ritos da vigília, embora organizados em várias partes, formam um todo único em torno do núcleo essencial da proclamação da Palavra de Deus e da celebração dos sacramentos pascais do batismo, da crisma e da eucaristia, ápice da iniciação cristã e ponto culminante de todo o Tríduo Pascal. Se na quinta-feira santa damos ênfase à reunião da Igreja, repetindo os gestos de Jesus na última ceia, com mais razão devemos enfatizar a liturgia eucarística da Vigília Pascal; de tal forma que apareça claramente sua estrutura de Ceia, todos podendo comungar do pão santificado nesta missa e também do vinho, com plena consciência de que se trata do sacramento pascal, memorial do sacrifício da cruz e presença de Cristo ressuscitado.

                     Com a Vigília Pascal, entramos no grande domingo da páscoa, que será prolongado por cinqüenta dias de festa e de alegria. O cenário é sugerido pelas portadoras do perfume que vão ao túmulo para completar o rito do sepultamento, feito às pressas na tarde da morte, e descobrem o túmulo vazio. Fazemos nossa a profunda reverência do discípulo amado diante do AMOR que vence a morte e a alegria da comunidade que escuta dos mensageiros o anúncio da ressurreição.